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Um passo nunca vem só

Um passo nunca vem só

A 1ª prova… e as seguintes #4

Todos os clichés sobre primeiras vezes são válidos para a primeira prova de corrida: é especial, é irrepetível, blá, blá, blá… nunca mais se esquece.

 

A minha primeira prova foi Viana do Alentejo, ou melhor, Grande Prémio de Atletismo Feira d’Aires – Memorial Luís Filipe Branco 2014.

Não sei muito bem como (ainda não me relacionava com ninguém da corrida) vim a saber que dia 28 de setembro haveria aquela prova ali próximo de casa, às tantas seria giro experimentar. Falei nisso ao meu marido e resolvemos ir!

No site da prova pode ler-se: “O Município de Viana do Alentejo, com a organização do Grande Prémio de Atletismo Feira d’Aires - Memorial Luís Filipe Branco, pretendeu recriar um evento desportivo muito popular nos anos 80 e 90 do século XX. Após 12 anos de interregno, pretende-se iniciar na Feira d’Aires – edição 2014 um novo ciclo da competição”.

Ora nem por acaso, inaugura um novo ciclo para a competição e para mim!

Assim para começar três notas: atletismo, calor, rampas.

Eu só estava habituada a cruzar-me com outros caminheiros/corredores no mesmo registo que eu, por isso fiquei maravilhada com o que encontrei na prova de Viana: os atletas (entenda-se os praticantes de atletismo, modalidade desportiva federada). Os equipamentos patrocinados, as camisolas de alças e a cueca de licra metem-nos logo no nosso lugar.

O foco daquela gente era claramente outro. Há toda uma aerodinâmica no aquecimento, na postura, no vestir e na ausência de acessórios do “running” que me levou a perguntar “no que é que eu me vim meter?”.

No meio destes pensamentos avistámos um grupo de pessoas “tipo nós” onde estava alguém conhecido do meu marido e estivemos a trocar impressões sobre o ambiente, as provas em que tinham participado e percebi que o registo deles também não era o do atletismo, pese embora alguns tivessem passado por essa escola. Havia outros intrusos como nós na prova, menos mal! Hoje olho para a fotografia de grupo deste dia e acho uma graça imensa ao constatar que entre os “desconhecidos” deste dia estão várias das pessoas com quem nos 2 anos seguintes partilhei de forma intensa boa parte deste percurso.

Até aqui tinha-me habituado a treinar em horários “confortáveis”. Comecei no verão, mas há sempre horas de menos calor, e eram as que eu elegia para o meu exercício. Ora a prova, que teria 6,5km, começaria, nada mais nada menos, que às 11h15 da manhã… Foi penoso!

 

Há pessoas que se adaptam muito bem a correr com calor, eu prefiro o frio. A sensação que tenho ainda hoje quando corro com muito calor é que o efeito da evaporação se faz sentir na minha energia. Não controlo tão bem a respiração e parece que vou em alta rotação, a consumir muito mais combustível que o desejável. Uma molha nestas ocasiões é providencial, assim haja água, é garantido que me vou lá meter debaixo, ou dentro: garrafas de água, torneiras, fontes, charcos, barragens, mangueiras dos carros de bombeiros... arrefecido o motor ganho energia para mais uns quilómetros.

Quando todo este cenário já não me animava em nada avisto as rampas de Viana. Caneco! Eu que até há bem pouco tempo caminhava e corria só quando me apanhava a descer, nem queria acreditar. E se por momentos pensei que devagarinho talvez fizesse aquela subida monumental sempre a correr (afinal de contas era a minha primeira prova de corrida e eu queria apenas acabá-la sem caminhar), olhar para cima e ver que todos os outros que eu avistava caminhavam foi o suficiente para me deixar convencer que não seria possível. E não foi. Nem em setembro de 2014, nem em setembro de 2015, que fiz questão de lá voltar no ano seguinte, mas ganhei as mesmas…

Fui quase todo o caminho a tentar ganhar fôlego para ultrapassar um senhor de cabelos brancos, pernas arqueadas e uma corcunda algo proeminente… e serviu-me também de lição. Nenhum corredor se julga pela aparência. Não é a idade, o peso, a altura, a passada ou a postura (e há passadas muito estranhas) que faz um corredor. É o treino que os define. E a maçarica ali era eu. O Sr. Silva, no auge dos seus 74 anos, chegou à meta 2 minutos antes de mim.

Resultados.

Fiz o percurso em 39 minutos e 05 segundos. Dos 75 atletas que cruzaram a meta nesse dia, apenas 3 o fizeram depois de mim. Sofri muito com o calor, e durante muito tempo as rampas de Viana acompanharam-me mentalmente em treinos e provas “se já fizeste as rampas de Viana, também fazes esta subida”.

Pior do que isso… o vício estava oficialmente instalado. Entre 28 de setembro e 26 de outubro de 2014 participei em 5 provas: o Grande Prémio de Atletismo Feria d’Aires (6,5 km), a Mini-Maratona da Ponte Vasco da Gama (6 km), a Mamamaratona de Portimão (10 km), a Volta Solidária do Alqueva (13 km), a Corrida Montepio (10 km).

Comecei a pensar numa meia-maratona (21km) e, reflexo da adaptação do corpo a esta nova vida, instalaram-se as primeiras dores.

 

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