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Um passo nunca vem só

Um passo nunca vem só

Sou barraquenha de coração, para sempre! #19

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2016 foi o meu ano de estreia nas provas de trail e fiz muita coisa diferente: Estremoz, Monsaraz, Gerês, Açores, Lousã, Monchique, Valverde e Barrancos.

 

Decidi fazer Barrancos para fechar o ano de trail com uma distância longa (42 km). Se corresse bem, seria a cereja em cima deste bolo de experiências, se não corresse bem, haveria de ser uma boa escola para futuros desafios.

 

Confesso que ia com receio, muito receio. Talvez por isso tentei fazer tudo certinho. Na mochila seguiu uma bisnaga de vaselina, umas meias, copo, barras e géis, um anti-inflamatório e o telemóvel.

 

A amplitude do meu objetivo de prova é reveladora do receio que levei comigo até Barrancos: tentar fazer os 42km em menos de 9 horas de prova e, se possível, 7 horas (não ia muito convencida).

 

Já tinha feito alguns treinos por ali e sabia que não ia fazer nenhum cross. Haveriam subidas duras, muito duras, trilhos estreitos com pedras e raízes, lages escorregadias: um autêntico parque de diversões.

 

Tive a sorte de fazer esta prova como mais gosto de correr, acompanhada! Dois grandes amigos e companheiros de corrida, o Zé Luís e o António. Pessoas de riso fácil, genuínas e que correm mais do que eu e não me deixam pastelar.

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Os primeiros 16km correram sem percalços. Um percurso bastante desafiante e que confirmou a minha maior fragilidade: os single tracks sinuosos não me deixam correr. Tenho medo. Já caí muitas vezes, não tenho um grande equilíbrio e não me consigo abstrair, reduzo muito a velocidade.

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Chegada ao 2º abastecimento, cometi um erro tremendo: distraída com a conversa e sem pensar muito no assunto, enchi o depósito da mochila até ao limite (1,5L), mesmo antes da subida ao castelo. Moral da história: rebentei com as costas.

 

 

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Foi um calvário que fui tentando minimizar com um spray para as dores que o António levava e que meti 2 vezes… sem grande resultado.

 

Depois do 3º abastecimento no Monte da Coitadinha para evitar o erro número dois resolvi fazer uma paragem estratégica para trocar as meias, que vinham com pedrinhas e lama e meti mais vaselina nos pés, foi providencial.

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Já só mais tarde me lembrei do bendito anti-infalmatório que levava na mochila e claro… magia! Pouco tempo depois fiquei como nova.

 

Foi também já nesta segunda metade da prova que resolvi tomar os géis que levava e mais uma vez senti que tinha sido uma decisão acertada. Os abastecimentos tinham coisas que adoro comer nas provas: marmelada, tomate com sal grosso, batatas fritas, frutos secos e fruta variada. Mas a verdade é que isto não me chega para tantas horas de esforço. As barras que levei e fui trincando entre abastecimentos foram importantes para nunca me deixar atingir um estado de fadiga que não me permitisse correr. A parte da alimentação correu-me muito bem. Também evitei as cervejas e a palomita no Castelo de Noudar. Depois de correr ninguém me negue uma hidratação com tudo a que tenho direito, mas a meio das corridas… passo!

 

Já levava 5 horas de prova resolvi entrar em modo tunning e a verdade é que a música certa faz muito pelo nosso estado de espírito. Mais uma decisão acertada.

 

E assim seguimos correndo, subindo, caminhando, trepando, até à Ponderosa onde nos esperava uma bela sopinha… também dispensei, pensei que ainda nos faltavam demasiados quilómetros para levar o estômago tão aconchegadinho. E Deus!!!! Quantas subidas ainda nos faltavam…

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É uma prova desafiante, sem dúvida, mas a beleza das paisagens: os rios, o castelo, as choças, os trilhos de pedra, o moinho e a graça com que os trilhos foram legendados pela organização, ajudam-nos a relativizar o empeno que dali se leva.

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Existirão poucas provas assim no Alentejo. A receita parece simples mas não haverá muitos a cozinhá-la tão bem: a qualidade do percurso (desafiante e em simultâneo equilibrado), a beleza paisagística (linda, linda, linda), a competência e a hospitalidade da organização (do staff aos voluntários todos eles irrepreensíveis).

 

Terminei a prova abaixo do meu objetivo, com 6h29, com um 6º lugar na geral femenina, imensamente feliz, a sentir-me tão bem que ainda disse em voz alta “a esta prova só lhe falta uma coisa: mais 10 km!”.


Barrancos não se explica. Ou se vive, se sente, se cheira, se saboreia, ou não se percebe.

 

Sou barranquenha de coração, para sempre!

 

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