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Um passo nunca vem só

Um passo nunca vem só

Regresso ao Trail, nos Trilhos de Mértola #59

Trilhos de Mértola.jpg

Então passo a explicar Mértola!

Nos últimos 2 anos o meu foco voltou-se para as provas de estrada. Uma ou outra participação em provas de trail, atrás de um treino de força ou de horas em cima das pernas.

Porque é que é importante começar por aqui, porque quando o nosso foco é o trail a malta prepara-se. Pensa na alimentação em função dos abastecimentos anunciados para a prova, nas unhas dos pés que é preciso cortar, nas meias que vai levar, de meter vaselina nos pés. A estrada fez-me "esquecer" isto tudo.

Com o objetivo de completar os 100k em outubro, o trail voltou a estar no meu foco. No meu mapa de treinos e de provas. Mas Mértola apareceu assim numa conversa de circunstância "Vamos? Vamos!"

E eu que quaaaase já me tinha esquecido do empeno de 2017 nos 44km, feita anja, qual inocente... fui sem pensar muito nisso.

Ora bem... vá de levar lambadão para abrir a pestana!

Assim só para tornar a coisa mais desafiante logo de base: uma noite quase sem dormir no Sicó, uma viagem de 390km agarrada ao volante em 5 horas (que as paragens eram obrigatórias para repor os níveis de cafeína), mais uma noite de solo duro em Mértola, nada preparado para o pequeno almoço, trincar uns bolos secos e um café providenciados pela organização.

Grupeta de amigos ajuntada, tiro de partida e saímos do Pulo do Lobo, sem objetivos, a não ser rolar pelos trilhos até chegar a Mértola. E se aquilo é bonito! Aquilo é lindo senhores, assim que se levanta a cabeça do chão, o queixo cai. É verdade. E a organização fez um trabalho brutal nos trilhos. Tínhamos socalcos, verdadeiras escadinhas, pedras, terra, areia, ervas, paus, o Guadiana sempre a guardar-nos o flanco, subiiiiiiiiiiiiiiidas e desciiiiiiiiiiiiiiidas para todo o tipo de artista.

Ao km 6, ou perto disso, avisto o homem da ventoinha sentado numa pedra. A prova da Ultra Distância tinha começado 2 horas antes e o João lá se decidiu depois de chegar aos 10km da prova dele, em vez de seguir o percurso, a voltar para trás e esperar pela companhia.

Ainda avançámos uns km em grupeta com o André, a Susana, a Teresa e um algarvio bem disposto que só gostava de correr nas descidas e falar pelos cotovelos e que deve ter afugentado o Campeão que parecia uma flecha e foi a correr para o pódio.

Na zona mais pedregosa começámos a avançar em ritmos diferentes e acabei por seguir com o João, que umas vezes sem querer, outras a saber bem o que fazia, foi puxando por mim, naquela que acabou por ser a minha primeira experiência de prova de trás para a frente. A partir dali foi sempre a recuperar posições, a passar malta ora sozinha, ora em grupos e a sentir-me bem.

Falhou-me o cuidado dos pés, que a determinada altura, se começaram a queixar (duas unhas negras e assaduras das costuras das meias) e faltou-me cuidado na alimentação porque 2 abastecimentos em 6 horas de prova onde não há comida mais substancial chega a uma altura que dá porradão (a tal parede). E eu sem géis, sem os meus figos e as minhas amêndoas, movida a água, a pastilhas isotónicas, ao som da playlist do telemóvel e da voz do João que não me deixava quebrar, que me fazia crer que aquilo até me estava a correr bem e que me descompunha de cada vez que me começava a estalar o verniz e a desfiar palavrão que até fervia: “Olha aí a criação!” e eu já lhe respondia “Mas qual criação?! Como eu me sinto agora sei lá eu se não me foram buscar ao contentor do lixo”.

Bem, e a verdade é que, sem treinos, sem preparação e sem descanso, acho que até correu para lá de bem. A primeira vitória foi não ter ficado pelo caminho. A segunda foi chegar a meio da tabela da geral feminina (15 em 30) e a terceira um 4 lugar do escalão a menos de 3 minutos do lugar no pódio. Que a gente não anda cá para ganhar nada, mas depois gosta destas novelas!!!

Os próximos 8 meses prometem. Ainda vem por aí um mês e meio de paragem por conta de outros objetivos pessoais que, entretanto, me impedem de fazer a Maratona de Aveiro. Mas a motivação está no sítio certo. Devagarinho lá chegaremos.

#roadto100km

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