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Um passo nunca vem só

Um passo nunca vem só

Estamos empatadas e parece-me justo! #41

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Hoje voltei à prova de Viana do Alentejo pelo 4º ano consecutivo. Foi a primeira prova que fiz, em 2014, e lembro-me como se tivesse sido ontem: do calor, das rampas, da malta da cueca de licra, das pernas arqueadas do Sr. Silva que nunca consegui apanhar e de uma série de outras coisas que só não me esqueço porque “a primeira vez” tem este efeito de ficar estranhamente pregado à nossa memória.

 

Voltei e voltou a ser especial. Não participava em provas desde março, 6 longos meses sem sentir a adrenalina, as borboletas na barriga, o nervoso miudinho que sinto sempre que vou a jogo (ainda que o jogo seja a feijões) – porra que tinha saudades! Foram 6 meses para não esquecer: uma senhora dona anemia, Évora – Fátima a correr em 4 dias, sarar as “feridas” e tentar recuperar a forma com cabeça e, pela primeira vez, com um plano de treinos (corrida, alimentação e reforço muscular).

 

Pela primeira vez, em muito tempo, fui para uma prova sem um objetivo de desempenho em mente. Nada, nada, nadica. Queria só voltar às provas, e meter a máquina a testes. Estava borradinha de medo. Ainda tenho bem escarrapachado na memória os sintomas da anemia: o cansaço, a dor nas pernas, a incapacidade de respirar e temia que ela estivesse só à espera de uma prova para me mostrar que ainda vive em mim (as análises dizem que não!). Tinha orientações claras da Rita: “comer”, “aquecer”, “não arrancar em modo bala”, “hidratar” e fui exemplar, cumpri à risca e ao minuto!

 

Mas havia um objetivo “secreto”: levar a melhor às rampas de Viana. Não interessava o resto. Em 2014 e 2015 não as consegui fazer a correr. O ano passado consegui e fiz uma prova fantástica (comparativamente aos meus resultados, naturalmente), mas estava em boa forma e com um bom ritmo de treino. Este ano tudo podia acontecer: vencê-las ou deixar-me vencer.

 

Os dois primeiros quilómetros a um ritmo controlado e eis que as maganas aparecem… tica, tica, tica, tica e faço a primeira rampa, sempre a correr, ofegante, mas vitoriosa. Mais umas voltas por Viana e aparece a segunda… tica, tica tica, mesmo a terminar a segunda rampa passo por uma atleta de Odemira que se desvia no seu passo de caminhada para eu passar e me diz “Força!”. Sorri-lhe, era muito novinha e disse-lhe “não é força, é cabeça!” e segui, ofegante mas vitoriosa.

 

 Passado uns metros a jovem atleta voltou a passar-me na descida e diz-me “obrigada pela dica, é mesmo isso!”, sorrimos e lá continuámos até à meta. Fui sempre a vê-la mas já sem a conseguir passar (bela cabecinha!!!!).

 

Não cheguei a ver os resultados, não sei que tal me saí na classificação, mas hoje o foco era outro. O relógio diz-me que fiz mais 4 minutos que o ano passado e fiquei contente. Contente porque estou empatada com as rampas e com boas probabilidades de vir a ganhar vantagem, porque elas já não inclinam mais e eu tenho um ano inteiro para treinar. Contente porque nunca me senti no limite (a não ser no finzinho das rampas, mas quer-se dizer quem não se terá sentido!). E contente porque assisti a uma bonita entrega de prémios onde os prémios para pódios na geral e escalões foram, pela primeira vez, iguais para homens e mulheres e, para cereja no topo no bolo, tive oportunidade de aplaudir a minha amiga Fátima que vez um fantástico 2º lugar no escalão dela e uma belíssima prova.

 

A senhora que se segue? Trail Iber Lince de Barrancos, em novembro. Até lá, treinar o corpo com a cabeça!

Talvez nem tudo caia em saco roto #40

Um passo nunca vem so Viana.jpeg

 



Eu voltaria sempre a Viana do Alentejo, este ano em muito pior forma e sem objetivo de tempo, mas volto ainda mais feliz àquela que foi a minha primeira prova desde que comecei a correr, no próximo dia 24 de Setembro.

 

O motivo? A prova evoluiu, basta olhar para o regulamento, onde homens e mulheres são premiados de igual forma (os primeiros 5 da geral e os primeiros 3 de cada escalão).

 

Nos anos anteriores não foi assim e o ano passado o que se passou foi isto:

 

(TEXTO ESCRITO A 25.09.2016)

Meus Senhores: It's not about the Money

 

Hoje voltei à prova de atletismo de Viana do Alentejo.

 

Os senhores não sabem, mas em 2014 comecei o meu percurso na corrida e a prova de Viana foi a primeira em que participei. Cheguei nos 4 últimos da geral e com a sensação de dever cumprido. A mesma sensação com que terminei a prova de hoje, onde me classifiquei nas 4 primeiras mulheres da geral e nas 4 primeiras mulheres do meu escalão.

 

Não pratico atletismo, a modalidade desportiva. Sou uma corredora de rua. Treino na cidade, sem treinador, sem orientações técnicas, sem grandes regras. Mas isso não me impede de participar nas provas de atletismo que, tal como esta, têm no regulamento a informação de que são competições abertas à participação de atletas federados e não federados em representação de clubes ou individualmente.

 

Neste mesmo regulamento, à semelhança de muitas outras provas de atletismo por este paí­s fora, consta também a informação que "serão atribuídos prémios monetários aos três melhores femininos e aos cinco melhores masculinos, na pauta geral da prova principal, além de prémios pelos recordes do percurso".

 

O fundamento para esta decisão poderá ser razoável, mas tal como aparece descrito, aos olhos do comum dos mortais, parece apenas discriminatória.

 

Explicaram-me um dia que estas diferenças teriam a ver com o facto de haver muito menos mulheres a correr do que homens e, portanto, quando vamos analisar os resultados de um 4º ou 5º lugar masculino e as respetivas diferenças para os primeiros lugares e fazemos o mesmo exercí­cio para o lado feminino percebemos que as discrepâncias são muito maiores nas mulheres. Em resumo: será muito mais fácil para uma mulher conseguir um 4º lugar do que um homem e premiá-los na mesma medida, seria injusto para o homens! Não estou totalmente de acordo, mas não discuto (até porque o mundo está cheio de injustiças muito piores e tudo olha para o lado e assobia, mas aqui a injustiça toca aos homens!).

 

Vou assumir a partir deste ponto que seria uma injustiça eu receber os € que recebeu o 4º classificado da geral masculina. Desconhecendo o investimento que ele fez para o conseguir e conhecendo apenas o investimento que eu fiz. Meus senhores, acreditem, o meu investimento foi grande, à minha dimensção, foi enorme, só por isto: treinei o quanto pude e sempre que pude, neste domingo de manhã deixei em casa marido e filhos, fiz 104 km (ir e vir) no meu carro e uma vez em prova dei o melhor de mim para me classificar o melhor possível.

 

O que ganhei? Um quarto lugar! O que fiz eu? O meu melhor, que alguém entendeu que não seria o suficiente para ganhar um prémio monetário, equivalente ao do elemento masculino que se classificou na mesma posição.

 

Fui correr pelo dinheiro? Não, nem hoje, nem nunca. O que me indigna não é o dinheiro, é a mentalidade, é o princí­pio, é o fundamento: a injustiça para os homens.

 

Mas o que me mais me marcou no dia de hoje, o que me fez refletir, o que me fez dirigir ao Sr. Presidente da Câmara no final da entrega de prémios, foi ver chamarem ao pódio 5 lugares masculinos e 3 lugares femininos. Eu não quero o dinheiro, mas se é de justiça que falamos, não acho justo que ignorem ou desprezem o 4º (que por acaso hoje foi meu) e o 5º lugar feminino. Uma medalha? Um diploma? Uma menção honrosa? Um aperto de mão para a posteridade e uma palmadinha nas costas? Qualquer uma destas soluções me parceria infinitamente mais justa, mais digna do que um pódio masculino com 5 elementos, e um pódio feminino com 3 elementos, como se mais nenhuma mulher ali tivesse corrido.

 

Somos poucas, mas somos cada vez mais, não somos tão rápidas, mas somos cada vez mais. Não somos todos iguais, nem devemos ter essa pretensão. Mas devemos aspirar à igualdade de oportunidades. E eu hoje queria ter tido a oportunidade de ter feito os meus filhos orgulhosos do esforço da mãe, mostrando-lhes a minha fotografia num 4º lugar do pódio, só que não me foi dada essa oportunidade. Disse-me o senhor Presidente, que para o ano já não será assim!...

 

Este ano resta-me a oportunidade de lhes mostrar as fotografias dos dois pódios à geral, uma com 5 homens, outra com 3 mulheres e contar-lhes uma história para adormecer que começa assim: "Em 1967 houve uma mulher que resolveu quebrar as regras e ir correr uma maratona, porque as mulheres não podiam participar nestas provas, só em 1972 é a que adquiriram esse direito e passaram poder ser denominadas de atletas. Hoje em dia já nos deixam correr, mas..."

 

***

Só espero que este ano a prova de Viana do Alentejo se encha de mulheres que gostem de correr, a mais que não seja porque esta alteração merece ser comemorada!

 

Foi por mim que se fez esta mudança? Estou segura que não! Dei algum contributo? Quero acreditar que sim. Como todos nós damos quando em vez de ir falar mal do sistema para o café, nos dirigimos a quem pode, deve e é capaz de receber uma crítica construtiva. E tenho certezas cada vez maiores de que ao contrário do que muitos derrotistas defendem com o discuro do "não vale a pena", talvez nem tudo caia em saco roto.

 

Parabéns, Viana do Alentejo.

Parabéns Atletismo Português.

 

A 1ª prova… e as seguintes #4

Todos os clichés sobre primeiras vezes são válidos para a primeira prova de corrida: é especial, é irrepetível, blá, blá, blá… nunca mais se esquece.

 

A minha primeira prova foi Viana do Alentejo, ou melhor, Grande Prémio de Atletismo Feira d’Aires – Memorial Luís Filipe Branco 2014.

Não sei muito bem como (ainda não me relacionava com ninguém da corrida) vim a saber que dia 28 de setembro haveria aquela prova ali próximo de casa, às tantas seria giro experimentar. Falei nisso ao meu marido e resolvemos ir!

No site da prova pode ler-se: “O Município de Viana do Alentejo, com a organização do Grande Prémio de Atletismo Feira d’Aires - Memorial Luís Filipe Branco, pretendeu recriar um evento desportivo muito popular nos anos 80 e 90 do século XX. Após 12 anos de interregno, pretende-se iniciar na Feira d’Aires – edição 2014 um novo ciclo da competição”.

Ora nem por acaso, inaugura um novo ciclo para a competição e para mim!

Assim para começar três notas: atletismo, calor, rampas.

Eu só estava habituada a cruzar-me com outros caminheiros/corredores no mesmo registo que eu, por isso fiquei maravilhada com o que encontrei na prova de Viana: os atletas (entenda-se os praticantes de atletismo, modalidade desportiva federada). Os equipamentos patrocinados, as camisolas de alças e a cueca de licra metem-nos logo no nosso lugar.

O foco daquela gente era claramente outro. Há toda uma aerodinâmica no aquecimento, na postura, no vestir e na ausência de acessórios do “running” que me levou a perguntar “no que é que eu me vim meter?”.

No meio destes pensamentos avistámos um grupo de pessoas “tipo nós” onde estava alguém conhecido do meu marido e estivemos a trocar impressões sobre o ambiente, as provas em que tinham participado e percebi que o registo deles também não era o do atletismo, pese embora alguns tivessem passado por essa escola. Havia outros intrusos como nós na prova, menos mal! Hoje olho para a fotografia de grupo deste dia e acho uma graça imensa ao constatar que entre os “desconhecidos” deste dia estão várias das pessoas com quem nos 2 anos seguintes partilhei de forma intensa boa parte deste percurso.

Até aqui tinha-me habituado a treinar em horários “confortáveis”. Comecei no verão, mas há sempre horas de menos calor, e eram as que eu elegia para o meu exercício. Ora a prova, que teria 6,5km, começaria, nada mais nada menos, que às 11h15 da manhã… Foi penoso!

 

Há pessoas que se adaptam muito bem a correr com calor, eu prefiro o frio. A sensação que tenho ainda hoje quando corro com muito calor é que o efeito da evaporação se faz sentir na minha energia. Não controlo tão bem a respiração e parece que vou em alta rotação, a consumir muito mais combustível que o desejável. Uma molha nestas ocasiões é providencial, assim haja água, é garantido que me vou lá meter debaixo, ou dentro: garrafas de água, torneiras, fontes, charcos, barragens, mangueiras dos carros de bombeiros... arrefecido o motor ganho energia para mais uns quilómetros.

Quando todo este cenário já não me animava em nada avisto as rampas de Viana. Caneco! Eu que até há bem pouco tempo caminhava e corria só quando me apanhava a descer, nem queria acreditar. E se por momentos pensei que devagarinho talvez fizesse aquela subida monumental sempre a correr (afinal de contas era a minha primeira prova de corrida e eu queria apenas acabá-la sem caminhar), olhar para cima e ver que todos os outros que eu avistava caminhavam foi o suficiente para me deixar convencer que não seria possível. E não foi. Nem em setembro de 2014, nem em setembro de 2015, que fiz questão de lá voltar no ano seguinte, mas ganhei as mesmas…

Fui quase todo o caminho a tentar ganhar fôlego para ultrapassar um senhor de cabelos brancos, pernas arqueadas e uma corcunda algo proeminente… e serviu-me também de lição. Nenhum corredor se julga pela aparência. Não é a idade, o peso, a altura, a passada ou a postura (e há passadas muito estranhas) que faz um corredor. É o treino que os define. E a maçarica ali era eu. O Sr. Silva, no auge dos seus 74 anos, chegou à meta 2 minutos antes de mim.

Resultados.

Fiz o percurso em 39 minutos e 05 segundos. Dos 75 atletas que cruzaram a meta nesse dia, apenas 3 o fizeram depois de mim. Sofri muito com o calor, e durante muito tempo as rampas de Viana acompanharam-me mentalmente em treinos e provas “se já fizeste as rampas de Viana, também fazes esta subida”.

Pior do que isso… o vício estava oficialmente instalado. Entre 28 de setembro e 26 de outubro de 2014 participei em 5 provas: o Grande Prémio de Atletismo Feria d’Aires (6,5 km), a Mini-Maratona da Ponte Vasco da Gama (6 km), a Mamamaratona de Portimão (10 km), a Volta Solidária do Alqueva (13 km), a Corrida Montepio (10 km).

Comecei a pensar numa meia-maratona (21km) e, reflexo da adaptação do corpo a esta nova vida, instalaram-se as primeiras dores.

 

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